sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Salete escreveu uma carta

"Eu preciso do seu beijo,

preciso de seu toque, de seu desejo.

Eu não posso mais representar que está tudo bem, e me deitar com você, sem que isso me faça feliz.

Não, eu não estou falando sobre chegar ou não ao orgasmo!

Estou falando sobre algo que é feito por duas pessoas que se desejam, que querem sentir a pele uma da outra, sentir seus corpos se tocando, seus lábios se beijando, suas respirações ofegando no mesmo ritmo. Quero transar como transam os animais, que se cheiram, se exibem, se aproximam pra conseguir a atenção do sexo oposto.

Esse sexo mecânico, onde os botões são apertados sempre na mesma sequência, e me desculpe dizer, mas a sequência está errada, esse, não me satisfaz.

Não me afasto porque não gosto de transar. Eu só não gosto de transar assim"

A carta de Salete era endereçada mentalmente para seu marido. É claro que ela nunca iria entregá-la. Já havia rasgado muitas cartas anteriormente.

Lendo esse pequeno trecho, já posso encontrar algo que não posso compreender: Por que Salete pede desculpas ao dizer que essa relação não a satisfaz?

E a carta continua:

"Sei que somos casados a muito tempo. Talvez 28 anos tenha esfriado a nossa relação, talvez seja mesmo a falta de desejo por algo que está ali, sempre ao seu lado, sem desafios, sem mistérios. Ou talvez seja algo mais.

Outra mulher? Uma amante?

Gostaria de dizer que minhas suspeitas são bem piores. Nesse longo tempo de relação, reparei que não foi só o nosso corpo que mudou, eu engordei, você perdeu parte dos cabelos; mas nossas posições também mudaram. Estou falando do nosso Kama Sutra particular. Já faz tempo que percebi que você não me quer mais como a presa, você me quer como predador. Eu sou o leão e você a gazela. Esse tema já foi verbalizado, e naquele momento, meu coração se partiu. Isso não é uma metáfora!

Meu coração se partiu em duas seções: O homem que eu amava (e que me amava) e o homem que eu tenho agora. (quão homem ele é?)

Não faço psicanálise, não sou sexóloga, não converso com ninguém sobre isso, e não tenho como saber o quanto essa situação é comum, ou normal. 

Para mim, essa situação é anormal. 

Quero ser a gazela que saltita nos campos, enquanto os predadores observam, querendo caçá-la. Quero ser a fêmea disputada pelos machos do bando. Quero ser beijada até perder o fôlego. Quero ser cheirada, desejada, agarrada e tomada com a sede insaciável dos viajante do deserto. (o que posso fazer, se nem ao menos consigo chorar?)"

E a carta foi rasgada, e jogada no lixo, junto com as sobras da geladeira.

Meu nome é Sarah B. - Sou autora do blog: Borboletas também choram

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